A música passava pelas paredes da sala. Aquela
melodia, recém-escrita por ele, era tocada ao piano. Notas chegaram aos meus ouvidos quando passei
pelo corredor. Diminui a velocidade do passo e percebi que ali estava sozinha.
Somente ele e sua melodia me faziam companhia. Respirei fundo, abri a porta e
sem nenhum barulho entrei na sala. Ele continuou e não percebeu minha presença.
Eu observava quieta, aquelas mãos que percorriam as teclas daquele grande piano
escuro. Mesmo sem vozes e letras que contassem uma história, percebi que ele
sentia algo.
Ele se virou e percebeu que eu o assistia. Com aquele
sorriso encantador fez sinal para que sentasse ao seu lado. Percebi que na
verdade aquela melodia já tinha uma letra escrita, porem não era cantada por
ele. Ele apoiou suas mãos no piano novamente, pediu para que o acompanhasse e iniciou
da primeira nota desenhada na partitura. A letra era linda e me encantava. As
folhas chegaram ao final e as últimas notas foram jogadas ao ar. Não sabia o que
fazer quando elas se encerrassem e o silencio surgisse. Trocamos olhares e devo
ter corado. Agora a melodia que tocava era dentro de mim. Fechei os olhos e
deixei-a que tomasse conta de tudo, deixei-a tomar conta de nós.