Estamos todos na praia, você havia alugado um dos
apartamentos dos meus pais para que ficasse mais próximo do campeonato de surf
que participava. Era final de tarde, te levei na porta ao lado para conhecer onde
eu ficava. Minha mãe cozinhava, meu pai arrumava algo na sala. Na varanda te
mosto a luz da lua cheia daquele dia. Voltando em direção a porta senti que
teria um abraço de despedida, como já tive um dia, de parabéns e soube me
controlar. Não sabia se dessa vez me controlaria. Mas então nossa aproximação
foi interrompida pela campainha, outro surfista havia vindo pagar o resto do
aluguel. Vocês se sentam no sofá enquanto eu me retiro para um banho. Ao desligar
o chuveiro escuto uma discussão na sala, escuto que palavras mal escolhidas a causaram.
Escuto a porta bater. Ainda enrolada naquela toalha tenho meu coração querendo
escapar do peito. Saio em direção à sala e tudo se passa muito rápido. Não o
vejo mais, tento entender o porquê de tudo. Escuto a voz grossa do meu pai dizendo:
Ele vai embora.
Meu coração disparava a mil por segundo e pensamentos
voavam se esbarrando um no outro. Não podia deixar que ele ficasse longe de mim
e abrisse mão do campeonato. Abri a porta da frente e me vi no corredor vazio. Dalí ele já havia passado. Desço as escadas e saio em direção à rua. A noite estava
escura, mesmo com sua lua cheia. As luzes dos postes iluminavam muito pouco ao meu
olhar. Havia muitos surfistas na rua naquela hora, não sabia por quê. Só pensava
em te achar. Grito seu nome. Duas, três vezes. Corro as escadas da entrada do prédio
até que consigo te ver do outro lado da rua. Meu coração para, tudo para, os
carros param e você corre em minha direção. Senti seus braços fortes ao redor
de mim o mais forte que já tinha sentido algum dia. Me segurava forte e senti
que nunca mais sairia do seu lado. Nossos lábios se tocaram e intensamente o
mundo começou a girar, parecíamos estar sozinhos num momento único. Meu coração
disparado não parava quieto. Abracei-o mais forte e tentei fazer o tempo parar
para que juntos ficassemos pra sempre. O tempo parou, mas foi em sinal do meu despertador
que tocara na cabeceira. Avisando-me que tudo não teria passado de um sonho e
que ainda estava longe, muito longe.