E se sua vida acabasse agora teria feito tudo valer a
pena? Poderia ir e não deixar nada para trás? Nenhum argumento não dito, algum
desculpas, algum abraço de obrigada não dado. Pego meu antigo caderno preto. Abro nas
paginas em que fiz anotações durante uma aula. Aquela aula que me fazia pensar
no que tinha, no que era, no que não deveria ser, macaco. Todos nós perdemos a
arte de nos encantar com as coisas como se fosse a primeira vez que víssemos. Perdemos
nossa essência e a vida toma um rumo fútil. Pequenas coisas ruins escondem magníficos
sentimentos. Jura que esse final escondeu tudo de bom que tivemos? Não quero
escrever de você, não mereces.
Quero escrever da vida. Qual é o seu sentido além do
qual decidimos dar a ela? Defini o que eu quero e vou viver a minha em pequenos
momentos, cada um com seu cheiro, sua essência, seu gosto. Um cheiro que me lembre
a minha mãe, um cheiro de bolo que me lembre a minha avó. Viver pequenos
momentos, pequenas vontades, pequenos desejos.
Se minha vida acabasse agora não ficaria satisfeita. Não
me arrependo do que já fiz. Porém, não abracei suficiente, não disse – eu te
amo – a todos que amo. Não conquistei todas as novas amizades que quis, não dei
um last kiss. Não viajei o suficiente
e não conheci tudo que quero conhecer desse mundo. Já vi neve, mas não fiz
bonecos, nem fiz anjos que com ajuda para levantar ficariam perfeitos. Tenho orgulho
do que vivi e do que hoje sou. Das pessoas que tenho comigo e que merecem meu
ombro. Feliz com as pessoas que já aconselhei a pensar duas vezes, mudar e
ajudar a sair da fase macaco, egoísta. Mas algumas delas, de lá, será difícil sair.
Sinto orgulho da minha família, orgulho de mim. Um dia seguirei meu sonho mais
a fundo, e talvez através de versos mude pensamentos dos mais hipócritas e
desacreditados. Se não mudar, terei feito pelo menos minha parte. Corrido atrás
e tentado. Então poderei ir, para sempre, para um céu estrelado aonde descansarei.